30 de maio de 2011

virtual vs real

É curioso como se forma a personalidade de uma pessoa não é?
Tenho uma amiga que conheceu um amigo/homem (nem sei muito bem como classificar) através da internet. Tem vindo a falar durante algum tempo e decidiram encontrarem-se. Ficou muito decepcionada pois o real não tem nada haver com o que ela estava à espera (e não é só fisicamente, mesmo a nível de personalidade!).

É pena que Freud não esteja aqui...Será que ele explicaria com exactidão essa nova e cibernética perspectiva da personalidade? Será que se forma (ou se reforma) uma personalidade através da internet?
O mundo virtual mistura-se com o mundo real, fazendo as pessoas viverem papéis invertidos, de acordo com o que têm dentro de si e que na sociedade à luz da realidade não poderiam manifestar nunca...!
Outros usam o mundo virtual para desabafar e para colocar para fora o que têm dentro de si, às vezes o de melhor e por vezes o de pior...!
Quando estamos na internet não sabemos com quem estamos a lidar, se com uma pessoa que necessita de atenção ou se usa de subterfúgios para viver um mundo de fantasias que na realidade não lhe seria possível viver. Existem várias teorias que tentam explicar o comportamento humano. Porém ficam as dúvidas de qual nos basearmos para entendermos este fenómeno. A personalidade virtual será real ou imaginária?
Todos nós temos os nossos desejos mal resolvidos e talvez essa seja a grande questão...!
O homem que se acha "feio", pode sentir-se muito bem ao conversar com uma mulher (pensando que seja uma mulher). A realidade é velada num anonimato representado por um "nick" bonitinho, sensual, tentador...
Procura-se na internet a imagem que se quer e até se localiza com facilidade. Ninguém é ninguém com certeza...De repente, aparecem as louras para os homens que podemos imaginar gostarem de louras, morenas para quem tanto as aprecia, e porque não, para desenjoar, umas ruivas?
Faz-se de tudo para cativar a atenção... Tudo no mundo virtual é suposição em termos de relacionamentos. Trabalha-se demais com o imaginário, com as impressões subjectivas do que seja o indivíduo do outro lado.
Pessoas casadas tornam-se solteiras, homens tornam-se mulheres e vice.versa, representando uma troca momentânea de papéis.
O limite não existe...Mentiras e verdades confundem-se num emaranhado de bytes, onde sobram somente expectativas em relação ao outro desconhecido e que costuma fazer tão bem a um ego muitas vezes ferido pela realidade, um simples "clique" e está tudo acabado...Assim como um simples "clique" pode começar um jogo sem fim...!
O número de viciados pela "net" cresce todos os dias, talvez tanto ou mais quanto os viciados em bingo e drogas. A lei do retorno é imediata. Investimos com altivez e a resposta tarda, mas não falha...
Mas, no meu ver, a internet não é só pontos negativos: tem também as suas contribuições. Ela é capaz de aproximar pessoas fisicamente tão distantes que a impressão que temos é de estar ao seu lado. Mas, ao mesmo tempo que a "net" aproxima, também distancia...!Ao mesmo tempo que desenvolve o poder de comunicação destrói com mentiras e invenções! Ao mesmo tempo que trabalha com o imaginário, deixa um "Q" de dúvida extremamente real...!
Será esse o paradoxo insolúvel das novas formas de relacionamentos humanos? Essa dúvida acaba por fazer com que algumas pessoas acabem magoadas com algo em que acreditaram, mas que na realidade não existe... Aliás existir, existe, no mundo virtual e não no mundo real. Mas será o virtual real?
O que faz as pessoas acreditarem nele como real? A satisfação muitas vezes dá-se mais no plano virtual do que no plano real. Se há satisfação, há realidade, portanto o virtual existe, porém não é real. A satisfação através da imagem fisíca das pessoas e géneros humanos não é uma satisfação real, pois dá-se no campo das ideias, mas não seria antagónica a afirmação dum antigo filósofo grego que dizia: "a verdade só existe no plano das ideias...O que vemos, ouvimos, fazemos...Na realidade, são representações da verdade"?
Bem...Creio que o virtual existe, pois o virtual é uma realidade!
Mas a colocação da palavra virtual, para mim, é que está errada...!
Por exemplo: aquelas pessoas que dizem estar apaixonadas  pelo "produto" de um relacionamento virtual...Elas realmente sentem amor, afecto, paixão, (dêem o nome que quiserem) mas o "produto final" desse sentimento pode ou não existir. Não se dá o nome de virtual a esse "produto final". Isso não é virtualidade!
Chamaria a esse "produto final" de identidade estereotipada de realidade virtual.
E quantas surpresas agradáveis...Quando o virtual vai além de virtual e se torna real, verdadeiro...É um momento mágico...!
Mas isso é só para aqueles que preservaram a sua real identidade do começo ao fim! Para quem acreditou num ser real, (próprio e do outro) que em vez de deixar o real de lado, usou o virtual para se aproximar mais da realidade do outro, de forma sublime, subtil, quase sem querer :)
Aí...Resta saber se vale a pena viver o virtual e o real juntos, ou somente as partes. Agora quando se utiliza a fantasia para poder atrair a atenção do outro (ou seja, descobrir o que mais o outro admira e fazer-se passar por) com uma imagem que na realidade não é sua, aí o desfecho dessa história de retorno provocará dor, será uma tortura...!
Como assumir diante do outro a verdadeira identidade, já que a personalidade da qual ele se encantou é meramente ilustrativa, ou seja uma realidade que não faz parte do mundo real e sim do imaginário do qual o outro construiu os seus sonhos?
Porque não paixões virtuais? Conheço algumas bem fortes, de largos meses , belas, eloquentes...Das que fazem sonhar, sorrir e até mesmo chorar...!

1 comentário:

Nokas disse...

As pessoas têm tendência a misturar o real e o virtual...e nem todas sabem fazer distinção!